Uma homenagem À Twiggy

Rest in peace my little rat...


They thought I had guts but they had it all wrong. I was only frightened of more important things.


Andava com mania de suicídio e com crises de depressão aguda; não suportava ajuntamentos perto de mim e, acima de tudo, não tolerava entrar em fila comprida pra esperar seja lá o que fosse. E é nisso que toda a sociedade está se transformando: em longas filas à espera de alguma coisa. Tentei me matar com gás e não consegui. Mas tinha outro problema. Levantar da cama. Sempre tive ódio disso. Vivia afirmando: "as duas maiores invenções da humanidade foram a cama e a bomba atômica; não saindo da primeira, a gente se salva, e, soltando a segunda, se acaba com tudo". Acharam que estava louco. Brincadeira de criança, é só disso que essa gente entende: brincadeira de criança - passam da placenta pro túmulo sem nem se abalar com este horror que é a vida.
Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã. Significava que a vida ia recomeçar e depois que se passa a noite inteira dormindo cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais dificíl de abrir mão. Sempre fui solitário. Você vai me desculpar, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma que outra trepadinha legal, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem. É, eu sei que isso não é uma atitude simpática. Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol. Afinal de contas, foram essas pessoas que me tornaram infeliz.

Padam padam padam

Pensei então que ja esta na hora de voltar a escrever, tenho ouvido lido muita merda nos ultimos dias.

Sobre Morangos Mofados

Remexa na memória, na infância, nos sonhos, nos tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente, é lá que você está. Tem que por isso pra fora, enfiar o dedo na garganta. Depois, claro, você peneira esse vomito, amolda-o, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E não fique esperando que alguém faça isso por você. Na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente. Só não fique assim, engasgado.

Let me take you down
cause I'm going to
strawberry fields...

Uma homenagem a Caio F. Abreu e Cornelia Heidiger.

Its all about great families: Mustache club


The first rule of Mustache Club - you talk about Mustache Club.

Cama e lençóis prontos para a orgia..

Bons livros nunca caem em completo esquecimento. Alguns demoram a serem redescobertos, ameaçam extinção, perdem-se pelos sebos mais estranhos do país, mas cedo ou tarde voltam a pipocar pelas prateleiras de ‘novidades’ das livrarias. Foi assim com a obra mais popular do jornalista norte-americano Hunter S. Thompson no Brasil, que teve o seu ‘Fear and Loathing in Las Vegas’ traduzido para o português em 1984 (Las Vegas na Cabeça, Ed. Anima) e que ganhou nova edição só em 2007 (agora sim: Medo e Delírio em Las Vegas, Ed. Conrad). O bêbado safado Charles Bukowski, resgatado pelos livros de bolso, passou por um período semelhante. Mas estão os dois de volta, reeditados e cheirando a novo. Não poderia ser diferente com os ‘registros’ da chamada Geração Beat, protagonizada por Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Willian Burroughs, Neal Cassady, Lawrence Ferlinghetti, entre outros. Percebendo que talvez fosse um bom momento para colocar os velhos viajantes de volta na estrada, a L&PM Pocket já vem lançando há alguns anos os principais textos dos beats. Aqui está uma lista das obras que foram publicadas pela editora. As sinopses que acompanham cada título foram retiradas do site da L&PM.

Cartas do Yage // Yage Letters (Willian Burroughs e Allen Ginsberg)
Tradução: Bettina Becker

Em 1953, logo após a controversa morte acidental de sua mulher, William Burroughs (1914-1997) se lançou em uma viagem à América do Sul. Mais especificamente ao Peru e à Colômbia, na busca pelo yage, ou ayahuasca, droga usada pelos índios da nascente do rio Amazonas à qual se atribuem poderes sensoriais e anestésicos. Cartas do yage, um pouco diário de viagem, um pouco relato ficcionalizado, contém as cartas escritas ao amigo, amante e poeta Allen Ginsberg (1926-1997) sobre a experiência. Traz também as cartas que este enviou a Burroughs sete anos mais tarde, ao fazer uma jornada similar. De cunho autobiográfico, assim como Almoço nu e Junky, as principais obras ficcionais de Burroughs, Cartas do yage embala o leitor numa verdadeira viagem, na companhia de dois dos maiores autores beat.

De Repente, Acidentes // (Carl Solomon)
Tradução: José Thomaz Brum

O “dadaísta do Bronx”, o “poeta metálico”, o “poeta extinto”: esse é Carl Solomon, para quem o longo e profético Uivo, de Allen Ginsberg, foi inteiramente dedicado. Mas Solomon não é apenas um nome numa dedicatória antológica – ele também escreve. E como! Poeta em migalhas, cronista do absurdo, contista fragmentário, Carl Solomon tem se dedicado ultimamente a empregos não-literários (vendedor, mensageiro).
Os textos destes seus dois primeiros e únicos livros, Mishaps, Perhaps e More Mishaps, editados por Mary Beach em 1966 e 1968 respectivamente, nos oferecem uma visão intensa e singular do outro lado, sem Deus nem natureza. Espécie de Artaud com um riso michauxniano no canto da boca, Solomon se diferencia dos outros beats por ser escritor não-místico e demasiado urbano.
Aqui o leitor encontrará indignados libelos contra a psiquiatria policialesca e repressiva dos asilos e hospícios, ensaios sobre Artaud, Van Gogh, Baudelaire e outros visionários, flashes da vida beat pelos becos, ruelas e apartamentos encardidos de Nova Iorque. Um livro ousado, digno e arrebatador.

Diários de Jack Kerouac – 1947 – 1954 // Windblown World – The Journals of Jack Kerouac (Jack Kerouac)
Tradução: Edmundo Barreiros

O Jack Kerouac mais conhecido é aquela figura dos romances autobiográficos do autor, meio bad boy, meio anjo torto. E, no entanto, somente os seus diários íntimos – até hoje inéditos em livro –, nos quais ele desvendou seus sentimentos mais recônditos, revelam o verdadeiro Kerouac – o seu eu mais real, mais honesto e filosófico.
Em Diários de Jack Kerouac, 1947-1954, publicado nos Estados Unidos em outubro de 2004, o historiador Douglas Brinkley reuniu uma seleção de anotações dos diários escritos durante o período mais crucial da intrépida vida do romancista, começando em 1947, quando ele tinha 25 anos, e seguindo até 1954. Um verdadeiro retrato do artista quando jovem, estes diários mostram uma alma sensível mapeando seus próprios progressos como escritor e digerindo os seus mais importantes precursores literários, como Dostoiévski, Tolstói, Joyce, Mark Twain, Céline, entre outros. Eis Kerouac como um faminto e jovem escritor que luta para aperfeiçoar e terminar seu primeiro romance, The Town and the City, ao mesmo tempo em que constrói imporantes amizades, com Allen Ginsberg, William S. Burroughs e Neal Cassady. Eis, também, Kerouac em pleno processo de gestação daquela que seria considerada sua obra máxima, On the road, na qual começou a trabalhar em 1957.
Nestas páginas confessionais, o leitor vai encontrar relatada grande parte dos acontecimentos imortalizados em On the road, a eterna e iluminada devoção do escritor por um catolicismo místico, histórias das suas viagens pelos quatro cantos dos Estados Unidos, seu amor por uma América transcendental e anotações de idéias para inúmeros textos, além da sua crônica e tocante melancolia. Além do monstro sagrado, que tinha a implacável convicção de que logo haveria “uma nova grande revolução da alma”, vemos um jovem como tantos outros, cheio de dúvidas e medos, preocupado em arranjar uma namorada. Conforme fica claro na introdução, este livro “traz provas definitivas do profundo desejo de Kerouac de tornar-se um grande e duradouro romancista americano. Repletas de inocência juvenil e da luta para amadurecer e fazer sentido em um mundo de pecados, estas páginas revelam um artista sincero tentando descobrir sua própria voz”. Revelam, enfim, a alma e os sentimentos por trás de On the road e de outras tantas obras que transformaram a literatura e o pensamento do século XX.

Gato por Dentro, O // (Willian Burroughs)
Tradução: Edmundo Barreiros

O gato por dentro é uma viagem sentimental e particularíssima pelo ancestral convívio entre gatos e humanos – e pela relação de alguns gatos com um ser humano específico: William S. Burroughs (1914-1997), célebre escritor beat, autor de Almoço nu e Junky, e inveterado amante de felinos. Escrito na maturidade do autor (entre 1984 e 1986), O gato por dentro traz inventivas e espirituosas reminiscências e reflexões. Burroughs relembra os gatos que passaram pela sua vida, tudo o que fizeram por ele e por sua saúde mental, e parece concluir que, afora as particularidades físicas, pouca diferença há entre humanos e felinos. Um livro-revelação tanto para fãs de Burroughs quanto de gatos.

Geração Beat // Beat Generation (Jack Kerouac)
Tradução: Edmundo Barreiros

Em uma manhã do ano de 1953, um grupo de amigos e amigas, trabalhadores e operários em sua maioria – alguns vadios, é verdade –, partilham uma garrafa de vinho, que passa de mão em mão. Assim, com poucos personagens, tem início Geração Beat, peça que Jack Kerouac (1922-1969) escreveu em 1957 – ano do estrondoso sucesso de On the Road – e que só agora vem a público.
Por meio de diálogos que parecem imitar um jazz de ritmo sincopado, Kerouac, verdadeiro mestre-compositor, criador de maravilhosos arranjos, mostra a existência de pessoas reais, vivendo e morrendo no sonho americano, à margem da cultura e da sociedade do seu tempo. Entre uma discussão existencialista e uma corrida de cavalos, uma iluminação mística e uma bebedeira, surge o coração e a alma da geração beat, mentalidade que germinou durante décadas e acabou por florescer na contra cultura norte-americana da década de 1960. Nada mais nada menos do que uma América autêntica e alternativa.
Aí está todo o esplendor e toda a exuberância da geração beat, que, iniciada com Kerouac, Ginsberg, Burroughs e Corso, mudaria para sempre a cultura norte-americana.

Livro dos Sonhos, O // Book of Dreams, The (Jack Kerouac)
Tradução: Milton Persson

O livro dos sonhos é o relato de Jack Kerouac (1922-1969) sobre sua vida onírica, uma autobiografia da alma, um On the road do inconsciente. Acordado ou dormindo, a mente de Kerouac voltava-se para a rede de relações entre pessoas e personagens, que era a substância de toda a sua obra. Kerouac é o maior autor da geração beat. Sua prosa espontânea definiu os rumos literários do movimento e influenciou centenas de outros escritores. Em O livro dos sonhos aparece, em estado bruto, o material sobre o qual Kerouac construiu suas obras mais poderosas, como On the road e Visions of Cody. Trata-se de um livro fundamental para aqueles que pretendem conhecer a fundo o grande líder de uma geração.

On the Road, o Manuscrito Original (Jack Kerouac)
Tradução: Eduardo Bueno e Lúcia Brito

Foi em 1947 que Jack Kerouac começou a pensar pela primeira vez no romance que viria a ser On the Road. Nos três anos seguintes, ele cruzou os Estados Unidos na companhia de Neal Cassady e de outros amigos. Essas viagens se tornaram a experiência formadora de Kerouac e o material bruto que seria utilizado na sua mais famosa obra. Nesses três anos, o aspirante a escritor encheu diários e cadernos com anotações e esboços nos quais experimentava possíveis protagonistas e situações ficcionais. Depois de ficar enfeitiçado pelas cartas explosivas, exuberantes e cheias de incentivo que Cassady lhe enviara entre o final de 1950 e o início de 1951, Kerouac finalmente decidiu que a melhor maneira de escrever o romance seria contar a história da sua vida e contá-la ´como aconteceu´. Durante três semanas do mês de abril de 1951, em um apartamento da rua 20 Oeste de Manhattan, ele trabalhou frenética e incessantemente em sua máquina de escrever, e o resultado foi uma versão que considerou satisfatória. Ela foi datilografada em um só longo parágrafo, com entrelinha simples, em folhas de papel vegetal mais tarde coladas umas às outras, formando um rolo de quase 37 metros de comprimento. Somente em 5 de setembro de 1957 seis anos e várias versões e correções depois a editora norte-americana Viking publicou o livro tal qual é conhecido por nós, e tal qual foi traduzido em todo o mundo.
Eis aqui, pela primeiríssima vez, a versão do manuscrito original de 1951 de On the Road. Este texto representa a expressão inicial, em toda sua força, da revolucionária estética de Kerouac, o ponto identificável no qual sua percepção temática e sua voz narrativa se uniram em uma explosão de energia criativa. Esta versão de On the Road é mais crua, mais selvagem e mais sexualmente explícita do que o romance conhecido por todos. Além disso, na versão do manuscrito original, Kerouac apresenta os personagens (inspirados nele próprio e nos seus amigos) com os nomes reais: Neal Cassady, Allen Ginsberg, William S. Burroughs e Jack, o que só reforça o poderoso e íntimo imediatismo do texto.
On the Road: o manuscrito original é sem dúvida um dos mais significativos, celebrados e provocativos documentos da história literária contemporânea.

Parque de Diversões na Cabeça, Um // Coney Island of the Mind, A (Lawrence Ferlinghetti)
Tradução: Eduardo Bueno e Leonardo Fróes

Considerado por muitos o melhor livro de Lawrence Ferlinghetti, Um parque de diversões da cabeça (1958) é o segundo livro do autor, fundador da editora e livraria City Lights (em funcionamento até hoje), que lançou grande parte dos autores beat e mudou os rumos da literatura americana da década de 50.
Aqui apresentada em edição bilíngüe, a grande obra poética de Ferlinghetti celebra os elementos banais do dia-a-dia, a gíria das ruas, a vida simples e também seu amor pela arte. É um compêndio de memórias, impressões e fragmentos líricos. O olhar de pintor realça o cenário americano da época, a espiritualidade e a beleza intrínseca a tudo. Evoca Dante, Goya, Chagall, Kafka, Yeats, Hemingway para compor esse “parque de diversões da cabeça”. Esse título, extraído do livro Into the Night Life, de Henry Miller, segundo o próprio Ferlinghetti é usado fora do contexto original, mas expressa o que ele sentia ao escrever os poemas, algo como um “circo da alma”.
Esta “poesia andarilha”, como Ferlinghetti a definiu, tem muito de E. E. Cummings, Ezra Pound e Eliot, que se deixam sentir nos três grupos de poemas de Um parque. Na primeira parte, Ferlinghetti grita para o mundo os absurdos da cultura americana e denuncia a sociedade de massas. Já na segunda, as “Mensagens orais”, encontramos discursos espontâneos concebidos para acompanhamento jazzístico. O fechamento se dá com “Retratos do mundo que se foi”, grupo de poemas selecionado do primeiro livro do autor, Pictures of the Gone World, publicado em 1955 pela City Lights.

Pé na Estrada // On the Road (Jack Kerouac)
Tradução: Eduardo Bueno

Responsável por uma das maiores revoluções culturais do século XX, On the road – pé na estrada volta às livrarias brasileiras na bela tradução de Eduardo Bueno – inteiramente revista para esta edição – mantendo intacta sua aura de transgressão, lirismo e loucura.
Como o gemido lancinante e dolorido de Uivo, de Allen Ginsberg, o brado irreverente e drogado de Almoço nu, de William Burroughs, ou a lírica emocionada e emocionante de Lawrence Ferlinghetti, On the road escancarou ao mundo o lado sombrio do sonho americano. A partir da trip de dois jovens – Sal Paradise e Dean Moriarty –, de Paterson, New Jersey, até a costa oeste dos Estados Unidos, atravessando literalmente o país inteiro a partir da lendária Rota 66, Jack Kerouac inaugura uma nova forma de narrar.
A obra-prima de Kerouac foi escrita fundindo ação, emoção, sonho, reflexão e ambiente. Nesta nova literatura, o autor procurou captar a sonoridade das ruas, das planícies e das estradas americanas para criar um livro que transformaria milhares de cabeças, influenciando definitivamente todos os movimentos de vanguarda, do be bop ao rock, o pop, os hippies, o movimento punk e tudo o mais que sacudiu a arte e o comportamento da juventude na segunda metade do século XX.

Primeiro Terço, O // First Third, The (Neal Cassady)
Tradução: Mauro Sá Rego

Neal Cassady (1926-1968) é o herói insano que inspirou Kerouac a criar On the Road. Sem dúvida o beat mais genuíno de todos os tempos, Cassady narra aqui o “primeiro Terço” de sua vida: as desventuras de um garoto desamparado, criado entre vagabundos no árido Oeste americano, às voltas com reformatórios e pequenos furtos.
Quanto aos dois terços restantes, Cassady morreu (de overdose, à beira dos trilhos de uma ferrovia no México) antes de poder redigi-los. Perdido durante muitos anos, esse manuscrito foi encontrado em gavetas esquecidas, em 1969, e publicado pela editora City Lights, do poeta Lawrence Ferlinghetti, em 1971.
Quem leu On the Road e conhece a geração beat sabe o papel definitivo que Cassady ocupa no livro-chave e no movimento que se seguiu. Neste volume são publicadas também várias cartas e fragmentos escritos por Neal: neles estão narrados os primeiros encontros com Allen Ginsberg e Jack Kerouac, as prisões, os roubos de carro, os paraísos artificiais e até um pequeno e precioso ensaio, “História da Geração Hip”.

Subterrâneos, Os // Subterraneans (Jack Kerouac)
Tradução: Paulo Henriques Britto

Este é o início de Os subterrâneos, escrito durante três dias e três noites, resultado de mais um rompante inspiracional de Jack Kerouac, como o que resultou no grande clássico da geração beat, On the Road. Assim como o último, Os subterrâneos possui contornos autobiográficos. Leo Percepied é Kerouac e Mardou Fox é a moça pela qual o escritor se apaixona na Nova York dos anos 50. No livro, a pedido do editor, a história se transfere para São Francisco, mas o ambiente underground e boêmio é o mesmo.
O texto de Kerouac – publicado em 1958, um ano após o lançamento de On the Road –, é uma prosa de um só fôlego, com poucas pausas para novos parágrafos. Após concluir o livro, o próprio autor afirmou que a obra tinha adquirido um estilo quase jazzístico, ritmado, como o bebop que serve de trilha sonora para a história.
Os subterrâneos são um grupo de hipsters, aspirantes a artistas, outsiders, homens e mulheres que vivem de bar em bar pelas ruas da cidade. Os subterrâneos é a história do encontro de duas almas perdidas. Mardou é uma moça metade cherokee metade negra, que cresceu em meio à pobreza. Passou a juventude pulando de amante em amante, até conhecer Leo. Ele, por sua vez, se apaixona verdadeiramente por Mardou, mas a forte ligação com a mãe e o preconceito racial fazem com que Percepied não consiga levar o romance adiante. Ao romper essa ligação, Leo/Kerouac se vê completamente perdido, atitude que é justificada pelas últimas linhas do texto: – E vou para casa tendo perdido o amor dela. E escrevo esse livro.

Tristessa // Tristessa (Jack Kerouac)
Tradução: Edmundo Barreiros

Tristessa é uma junkie decaída, viciada em morfina, que vive na Cidade do México, e por ela se apaixona Jack, o protagonista deste romance, um poeta norte-americano. Publicado pela primeira vez em 1960 e baseado em fatos autobiográficos (em 1955 Kerouac apaixonou-se por uma prostituta índia chamada Esperanza), Tristessa é um belo exemplo da prosa poética do autor. O narrador do livro é todo compaixão ao descrever a sórdida vida de Tristessa, sua inocência corrompida e a peregrinação dos dois e de seus amigos (entre eles Allen Ginsberg) pelo submundo da capital mexicana. Um romance triste, de linguagem pulsante, cheio de ensinamentos budistas e repleto de compaixão pelo sofrimento humano.

Uivo // Howl (Allen Ginsberg)
Tradução: Cláudio Willer

Lançado no outono de 1956, o longo e profético Uivo de Allen Ginsberg (1926-1997) foi apreendido pela polícia de San Francisco, sob a acusação de se tratar de uma obra obscena. Depois de um tumultuado julgamento, semelhante ao que foi submetida a novela de William Burroughs, Naked Lunch, o poema foi liberado pela Suprema Corte americana e vendeu milhões de exemplares. Desde então se tornou uma fonte indispensável para todos aqueles que pretendem penetrar nas estações do inferno e iluminações de Allen Ginsberg e seus companheiros hipsters, pelas estradas amplas e becos sórdidos da América.
Junto com On the road de Jack Kerouac, é Uivo que marca o início do movimento beat. Subitamente transformado numa celebridade na América, Ginsberg prosseguiu produzindo num mesmo ritmo frenético até sua morte, em 1997. Estes poemas são exemplos brilhantes de poesia espontânea e em ritmo jazzístico do poeta maior da sua geração. As notas, a introdução e a tradução de Uivo são de autoria do poeta e tradutor Cláudio Willer.

Vagabundos Iluminados, Os // Dharma Bums, The (Jack Kerouac)
Tradução: Ana Ban

Considerado por muitos especialistas e fãs da literatura beat como o melhor romance de Jack “On the road” Kerouac, Os vagabundos iluminados (The dharma bums) conta a história de uma busca pela verdade e pela iluminação. O protagonista, Ray Smith, é um aspirante a escritor de San Francisco que anseia por algo mais na vida. Esse algo mais será apresentado a ele por Japhy Rider – um jovem zen-budista adepto do montanhismo que vive com um mínimo de dinheiro, alheio à sociedade de consumo norte-americana.
Em meio a festas, bebedeiras, garotas, jam sessions, saraus poéticos, orgias zen-budistas e viagens, Os vagabundos iluminados – lançado nos Estados Unidos em 1958, apenas um ano após o estouro de On the road, e somente agora publicado no Brasil – é, sem dúvida alguma, uma obra à altura da sua irmã mais famosa. O estilo turbinado, superadjetivado e livre de Kerouac exala doses nunca vistas de humor, sabedoria e contagiante gosto pela vida. Temos aqui uma geração beat mais beatífica, mais otimista e mais tranqüila. Em suma: mais iluminada.

Viajante Solitário // Lonesome Traveler (Jack Kerouac)
Tradução: Eduardo Bueno

“Poupei cada centavo e então torrei tudo subitamente em uma grande e gloriosa viagem à Europa ou a outro lugar qualquer e me senti leve e feliz também. Levou alguns meses, mas finalmente comprei uma passagem em um cargueiro iugoslavo que partiu do Busch Terminal do Brooklyn para Tânger, Marrocos. Zarpamos em uma manhã de fevereiro de 1957. Eu tinha uma cabine dupla só para mim, todos os meus livros, paz, sossego e estudo. Finalmente seria um escritor que não teria que trabalhar para os outros.”
Assim começa um dos oito textos autobiográficos de Viajante solitário, em que Jack Kerouac (1922-1969), autor do marco beat On the road, conta suas andanças mundo afora. Escritos com toda a espontaneidade e inventividade do autor, são relatos de viagens feitas por trem, por mar e por auto-estradas. Entre os lugares visitados estão o Marrocos (onde Kerouac encontra-se com o também escritor William Burroughs), a França, o México e várias facetas dos Estados Unidos. Viajante solitário é Kerouac em sua melhor forma, tratando do seu assunto preferido.

Visions of Cody // Visions of Cody (Jack Kerouac)
Guilherme da Silva Braga

Escrito entre 1951 e 1952, Visões de Cody só seria publicado integralmente em 1973, quase três anos após a morte de Kerouac, que julgava o romance sua obra-prima. Entretanto nesse meio-tempo, e sobretudo após a publicação de On the Road, em 1957, o livro tomou proporções de lenda underground – no que seria auxiliado por uma pequena edição (750 exemplares) com excertos do livro feita em 1960 pela editora nova-iorquina New Directions.
Porém, mesmo que Visões de Cody retome, em ritmo próprio, alguns episódios de On the Road (portanto inspirados nas viagens realizadas por Kerouac e Neal Cassady), ele vai além da mitologização autobiográfica. Trata-se da experiência beat levada às últimas conseqüências, com alguma influência joyceana.
Nele estão, igualmente, os Estados Unidos do pós-guerra que o autor conhecia tão bem e que tão magnificamente celebrou. E, se a visão da realidade de Kerouac é sempre extática e superabundante, não deixa de surpreender a lucidez com que ele imortalizou o espírito do seu tempo e do seu grupo, imbuído pelo conhecimento da própria mortalidade: “Estou escrevendo este livro porque vamos todos morrer…”.
Raras vezes traduzido e até hoje inédito no Brasil, Cody é leitura obrigatória para todos os amantes da literatura e do movimento beat.

Nota: A L&PM lançou ainda um livro de Cláudio Willer sobre a literatura beat em sua série ‘Encyclopaedia’. A obra traz o título ‘Geração Beat’.

Pegando carona nos relançamentos da L&PM, a editora Companhia das Letras colocou nas livrarias uma parceria entre Jack Kerouac e Willian Burroughs:

E os Hipopótamos Foram Cozidos em Seus Tanques (Jack Kerouac e Willian Burroughs)
Tradução: Alexandre Barbosa de Souza

E os hipopótamos foram cozidos em seus tanques baseia-se num crime passional ocorrido de fato em Nova York, em 1944, às margens do rio Hudson – o assassinato de David Kammerer pelo adolescente Lucien Carr, ambos amigos de Burroughs e Kerouac. Agora, com os implicados falecidos, o livro pôde finalmente vir à luz. Novela escrita em dupla, é a primeira obra acabada tanto de Kerouac, então com 23 anos, quanto do já trintão Burroughs. Nenhum dos dois – futuros pais fundadores da prosa beat norte-americana – tinha sido publicado ainda. Alternando-se nos capítulos, cada escritor comanda no livro um dos dois personagens narradores – o barman junky Will Dennison, a cargo de ‘Willian Lee’ (Burroughs), e o marinheiro desempregado Mike Ryko, animado literariamente por Kerouac. A trama é centrada num punhado de jovens e curiosos personagens típicos da beat generation, desgarrados, sem dinheiro, mas pouco inclinados ao trabalho convencional e ávidos por novas experiências. Do ócio eles tiram sua razão de ser, vagando de bar em bar, promovendo festinhas em apartamentos, regadas a álcool, drogas e muito papo cabeça.

Uma homenagem...




Com você eu vejo a vida cor de rosa..

Porque o fundo está também na superfície..

Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus -, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Então, de repente, sem pretender, respirei fundo e pensei que era bom viver. Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza. E ela era absoluta.

Curriculun Vitae da nossa candidata a presidência...

MEDO!

Que tempos difíceis eram aqueles:

ter a vontade e a necessidade de viver, mas não a habilidade.

No quarter

Se vai tentar
siga em frente.
Senão, nem começe!
Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho...e talvez a cabeça.
Pode significar ficar sem comer por dias,
Pode significar congelar em um parque,
Pode significar cadeia,
Pode significar caçoadas, desolação...
A desolação é o presente
O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente quis fazer
E farei, apesar do menosprezo
E será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.
Se vai tentar,
Vá em frente.
Não há outro sentimento como este
Ficará sozinho com os Deuses
E as noites serão quentes
Levará a vida com um sorriso perfeito
É a única coisa que vale a pena.

"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.”

T-I-R-E-D


Um belo dia você acorda com uma dor no pescoço. Uma dor nas costas. Seus olhos ardem. Seus músculos ardem. Você tem dificuldades para se lembrar das coisas, você tem dificuldades para acordar. Você tem dificuldades para dormir, para engordar, ou emagrecer, dificuldades em chegar de um ponto ao outro, dificuldades em chegar ao ponto, você perde o ponto, perde tempo. Ganha rugas. Os dias passam, você respira fumaça, bebe água contaminada. Queima a pele do seu rosto pelos raios catódicos do monitor, acende um cigarro, se pergunta até que idade você vai sobreviver. Pensa em se mudar para o interior. Pensa em parar de fumar. Pensa em comprar roupas novas. Pensa em matar alguém. Um belo dia você acorda e se dá conta que está cansado. Você se cansa da cidade, dos carros, das luzes. Você se cansa do lixo, das pessoas, do barulho. Se cansa de não saber para onde ir, se cansa de não ter para onde ir e precisar ir para algum lugar. Você se cansa de não ter razão, de não ter caminhos, de não ter opções, se cansa de ver sua vida igual a de todos os outros, se cansa de ser de um rebanho sem pastor. Você se cansa de chefes, deuses, impostos, moda, dinheiro. Você se cansa da sensação de estar desperdiçando seu tempo, você se cansa de não ter tempo algum para disperdiçar. Você se cansa de viver em um mundo onde quem não está desesperado, está louco. Você se desespera com medo de enlouquecer. Respira fundo, acende um cigarro. Você se cansa de não saber exatamente do que está cansado. Se cansa do "alguma coisa está errada" que paira sobre o ar desde uma época que você não se lembra. Se cansa das avenidas, das ruas, das alamedas, das praças, do sol, dos postes, das placas de sinalização, das buzinas. Você se cansa de amores incompletos, de amores platônicos, de falta de amor, de excesso disso e daquilo. Se cansa do "apesar de". Se cansa do rabo entre as pernas, da sensação de estar sendo prejudicado, se cansa do "a vida é assim mesmo". Você se cansa de esperar, de rezar, de aguardar, de ter esperanças, cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono. Você se cansa da hipocrisia, da falsidade, da ameaça constante, se cansa da estupidez, da apatia, da angústia, da insatisfação, da injustiça, do frenezi, da busca impossível e infinita de algo que não sabe o que é. Se cansa da sensação de não poder parar.
E você não para, até que esteja morto.