They thought I had guts but they had it all wrong. I was only frightened of more important things.


Andava com mania de suicídio e com crises de depressão aguda; não suportava ajuntamentos perto de mim e, acima de tudo, não tolerava entrar em fila comprida pra esperar seja lá o que fosse. E é nisso que toda a sociedade está se transformando: em longas filas à espera de alguma coisa. Tentei me matar com gás e não consegui. Mas tinha outro problema. Levantar da cama. Sempre tive ódio disso. Vivia afirmando: "as duas maiores invenções da humanidade foram a cama e a bomba atômica; não saindo da primeira, a gente se salva, e, soltando a segunda, se acaba com tudo". Acharam que estava louco. Brincadeira de criança, é só disso que essa gente entende: brincadeira de criança - passam da placenta pro túmulo sem nem se abalar com este horror que é a vida.
Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã. Significava que a vida ia recomeçar e depois que se passa a noite inteira dormindo cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais dificíl de abrir mão. Sempre fui solitário. Você vai me desculpar, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma que outra trepadinha legal, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem. É, eu sei que isso não é uma atitude simpática. Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol. Afinal de contas, foram essas pessoas que me tornaram infeliz.

Padam padam padam

Pensei então que ja esta na hora de voltar a escrever, tenho ouvido lido muita merda nos ultimos dias.

Sobre Morangos Mofados

Remexa na memória, na infância, nos sonhos, nos tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente, é lá que você está. Tem que por isso pra fora, enfiar o dedo na garganta. Depois, claro, você peneira esse vomito, amolda-o, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E não fique esperando que alguém faça isso por você. Na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente. Só não fique assim, engasgado.

Let me take you down
cause I'm going to
strawberry fields...

Uma homenagem a Caio F. Abreu e Cornelia Heidiger.