Eu gosto de escrever cartas. Longas cartas. Escrever uma carta é um exercício da memória, em que normalmente tudo o que é de bom aparece, porque nos recusamos a perder tempo escrevendo tudo o que é de mau - pra isso, existe o telefone. A persistência da memória é uma coisa útil, porque sempre nos cutuca quando andamos pela rua; quando estamos preparando às pressas o café-com-leite de manhã e ao lermos o jornal. Eu aprecio cada dia mais o amanhecer, porque é outono e esta é uma das minhas estações prediletas - perdendo só para a primavera, mas as duas não precisam brigar: gosto de ambas porque o céu é sempre mais azul, as manhãs mais frias e as noites mais acolhedoras. Quase sempre uso papel, mas cada vez menos. Porque as pessoas não tem a menor noção do que seja uma carta. Não é o tempo perdido de sentar e escrever à mão, dedos doídos pela caneta, a letra meio torta pelo costume do computador. É o tempo ganho pensando em alguém, lembrando de alguém, perguntando por alguém. E, como as pessoas não entendem, elas respondem por e-mail. Ou, pior, perguntam por que não usamos o MSN.
Heresia.
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