Salve Beaudelaire
É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas.
Mas – de quê ? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez ! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embragai-vos sem cessar !
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
Status:
Abaixo a Alienação Política!
"s'il n'existait pas Dieu, il faudrait l'inventer"
It's a brazilian jelly
As tontices anti-americanas, a ditadura, a democracia, etc e tal
02/02/2011
às 5:59As tontices antiamericanas, a ditadura, a democracia etc e tal
Aqui e ali, ouvem-se muxoxos acusando o governo americano de posar de grandes defensores da liberdade e, ao mesmo tempo, apoiar as tais ditaduras árabes. Huuummm… Vai ver essa gente acha que a “expedição democrática” ao Iraque é pouco e deveria se estender às demais nações — como se aquela guerra tivesse mesmo o objetivo de espalhar democracia.
Pode-se ser contra a invasão ou a favor dela, achar que foi necessária ou que foi um desastre, mas a democracia nunca teve nada a ver com isso. George W. Bush não decidiu ir à guerra para provar a Saddam Hussein a superioridade intelectual de Montesquieu e Tocqueville. Saddam não foi apeado por ser um ditador, mas porque era o ditador errado, ora essa! Nunca achei que alguém com mais de 15 anos tivesse essa dúvida. “Ditador errado para quem, cara pálida?” Bem, depende do lado em que você está ou do lado em que pensa estar — ou em que está efetivamente do ponto de vista político, intelectual e, em certo sentido, moral.
As ditaduras árabes são desprezíveis? São, sim, como todas as ditaduras. Só que há uma questão relevante aí: elas não foram instituídas pelo governo americano. São uma construção nativa. “Ah, mas o desmonte do colonialismo inglês na região…” Olhem, rende excelente literatura, como o magnífico “Os Sete Pilares da Sabedoria”, de Thomas Edward Lawrence, que rendeu o não menos magnífico filme “Lawrence da Arábia”, de David Lean. As questões que resultaram naquela divisão geopolítica estavam lá. Eu sei que certa visão da história quer sempre saber onde está a culpa, desde que esteja no Ocidente, é claro. Antes como agora, a história dos árabes é feita por eles próprios. O que esperavam? Que os EUA saíssem hostilizando governos amigos, impondo a sua noção de democracia e os seus valores?
Um regime democrático não se constrói sem valores, atores e estruturas que o sustentem . Não é um modelo a ser importado, mas uma escolha a ser feita na sociedade. O objetivo estratégico dos Estados Unidos no mundo árabe não é levar a sua “democracia”, mas manter uma paz que enfraqueça seus inimigos. Alguém está surpreso ou chocado com isso? Roma Antiga já fazia isso. Os Persas também. Com os gregos, não era diferente. A realidade existe.
“Mas então por que você condenou tanto a aproximação entre Lula e Ahmadinejad?” Porque aquele é um governo terrorista, que financia o terror além-fronteiras e porque está ocupado em construir uma bomba atômica com o claro e declarado propósito de ameaçar um outro país” — ou “varrê-lo do mapa”, na expressão daquele delinqüente. É claro que estou me referindo a Israel.
Algumas das ditaduras árabes têm contribuído para efetivamente combater o terrorismo islâmico, e eu considero necessário fazê-lo. Barack Obama, até outro dia o queridinho dos politicamente corretos, também deve considerá-lo, daí ter escolhido o Egito em 2009 para fazer seu discurso ao mundo islâmico. Assim, essa coisa estúpida, tolinha, de dizer que os EUA são contraditórios porque apóiam algumas ditaduras e combatem outras é só uma boçalidade supostamente generosa, quando não é ideologicamente orientada. Se eu tivesse de escolher entre a ditadura de Mubarak e a da Irmandade Muçulmana, ficaria com a primeira. “Ah, mas e os egípcios?” Bem, como eles não conhecem uma, podem odiar, e estão certos em fazê-lo, a outra. Sei o que acontece onde os frutos da Irmandade, como é o caso do Hamas, são governo. Hoje, os israelenses já não oprimem palestinos em Gaza; os terroristas o fazem — sem sistema judiciário organizado porque não precisa!
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Frase do dia
WikiLeaks x Brasil
Adios
Lula deixa um legado positivo em realizações, que não se pode negar:
A manutenção da estabilidade econômica que herdou dos antecessores Itamar Franco (1992-1995) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), na qual se baseou o grande crescimento do PIB e a formidável geração de empregos ocorridos em sua gestão, ambos impulsionados por uma conjuntura internacional extraordinariamente favorável. E, entre outros aspectos louváveis, a marcante distribuição de renda, também estribada na “rede de proteção social” do antecessor FHC, que seu governo ampliou e aprofundou.
Em compensação, em matéria de herança maldita, o presidente que hoje deixa o Planalto…
* Viu seu governo ser tisnado por escândalos nos Correios, na compra de ambulâncias, na montagem de dossiês fajutos para prejudicar adversários, na transformação da Casa Civil em balcão de negócios.
* Desmoralizou o quanto pôde o Congresso Nacional, por meio de seu então braço direito, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, que edificou umesquema de compra de apoio parlamentar, o mensalão, qualificado pelo procurador-geral da República como “formação de quadrilha”.
* Silenciou espantosamente diante da explosão do mensalão, para se pronunciar tardiamente dizendo-se “traído”, sem jamais apontar quem o traiu e por quê.
* Como parte do mesmo processo, fez composições com qualquer grupo político disposto a trocar apoio parlamentar por benesses governamentais, “não importando o quanto de incoerência essas novas alianças pudessem significar diante do que propunha, no passado, a aguerrida ação oposicionista de Lula e de seu partido na defesa intransigente dos mais elevados valores éticos na política”, como brilhantemente recordou o Estadão em editorial de 9 de setembro do ano passado. No saco de gatos governista o antes purista PT passou a conviver com o que há de pior na política brasileira, gente como José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Paulo Maluf e Fernando Collor.
* Envergonhou os brasileiros de bem quando comparou com bandidos comuns trancafiados em prisões brasileiras os dissidentes da ditadura cubana, e confraternizou com o ditador Raúl Castro no exato momento em que um deles morria em consequência de uma greve de fome.
* Envergonhou os brasileiros de bem estreitando laços com regimes ditatoriais, como os de Cuba ou do tenebroso Irã, ou com caudilhos autoritários como o venezuelano Hugo Chávez, e concordando em que o governo se abstivesse sistematicamente na ONU de condenar as violações de direitos humanos nesses países e em outros como a China, o Sudão e a Síria, aliando-se, na organização internacional, ao que há de pior em matéria de regimes autoritários.
* Desmoralizou as agências reguladoras, que deveriam ser órgãos técnicos e apartidários, para normatizar e fiscalizar áreas fundamentais da economia e da vida do país como o petróleo, as telecomunicações, a saúde pública ou a aviação, loteando-as entre políticos, cortando sua autonomia e reduzindo seus recursos no Orçamento.
* Desmoralizou o Tribunal Superior Eleitoral, zombando em público das sucessivas multas e advertências que recebeu por violar a lei ao fazer campanha para sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff, em horário de trabalho e utilizando espaços e outros recursos públicos.
* Desmoralizou o Tribunal de Contas da União, ao apontá-lo seguidamente como entrave à execução de obras públicas nas quais a corte detectou problemas, e mandando seguir obras cuja paralisação havia sido determinada pelo TCU.
* Desmoralizou uma instituição que por décadas figurava entre as mais confiáveis entre os brasileiros, os Correios, aparelhando-0s politicamente e deixando que o que antes era um centro de excelência em ninho de corrupção.
* Desestimulou os brasileiros que se esforçam por estudar e avançar em seu progresso educacional, ao passar invariavelmente a impressão de orgulhar-se de não possuir um diploma universitário e de, mesmo podendo, não ter estudado além do ensino elementar.
* Desmoralizou com frequência a majestade do próprio cargo, transformando a figura do presidente em palanqueiro vulgar, encantado pela própria voz, proferindo uma catarata diária de discursos e frequentes e constrangedores disparates, que dividiu o país entre “eles” e “nós”, falou em “extirpar” um partido político legítimo, o DEM, e zombou do candidato da oposição à Presidência, José Serra (PSDB), quando este se viu envolvido em incidente provocado por baderneiros no Rio de Janeiro.
* Fez o possível para desmoralizar a História, ao martelar em seus discursos e, indireta e insidiosamente, na caríssima propaganda de seu governo, que o Brasil começou com sua chegada ao Planalto, há oito anos, quando “os brasileiros se reencontraram com o Brasil e consigo mesmos” — desconsiderando e desrespeitando o trabalho de antecessores, principalmente FHC, e agindo como se o que a propaganda oficial chama de “reencontros” não ocorresse em surtos desde, pelo menos, a Inconfidência Mineira (1789). E depois passando pela Independência (1822), a República (1889) e, mais recentemente, pelos anos JK (1955-1961), as esperanças suscitadas com a eleição de Jânio Quadros (1961), o “Brasil Grande” da ditadura militar, o extraordinário movimento das Diretas-Já (1983-1984), o surto de civismo que significou a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em janeiro de 1985, e a comoção gigantesca que acompanhou sua morte, em abril do mesmo ano, o delírio otimista do Plano Cruzado (1986), o apoio ao Plano Real (1994) e a eleição em primeiro turno de FHC (ainda em 1994).
Nesse sentido, não importam seus índices de popularidade: Lula deixa uma herança maldita.
E já vai tarde.
Coluna do Ricardo Setti na Veja.