Brasil Monarquia (ou seria República?) Parte II

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A vida na província iniciava-se muito antes de os moradores do palácio acordarem. Ás cinco e meia um tiro do canhão do forte anunciava a abertura dos portos, e os vendedores das imediações do porto já começavam a organizar seus pontos. Ao mesmo tempo, coletores de esmolas contratados pelas irmandades religiosas se espalhavam pela cidade para arrecadar contribuições que se dirigiam as primeiras missas; às vezes esses coletores eram malandros que se faziam passar por representantes de irmandades, e embolsavam o dinheiro arrecadado.
Um pouco mais tarde, iniciava-se o movimento nos armazéns de secos e molhados, que ocupavam o andar térreo das casas do lado do mar, e nas oficinas, que se espalhavam por todo centro da cidade. Nas ruas estreitas e mal calçadas, começava o burburinho do trabalho: transporte de mercadorias em carros de boi ou nas costas dos escravos, vaivém incessante de pessoas, gritos dos vendedores que apregoavam seus produtos... Tudo isso em meio a muita sujeira, que se acumulava nas ruas, causando um odor bastante desagradável e a proliferação de doenças e epidemias, como a de piolhos.
No porto, nas pequenas lojas, nas oficinas, nas tendas dos ambulantes, nas procissões das ruas, enfim, em toda parte predominavam os africanos, e seus descendentes. Mesmo depois de séculos de escravização, eles mantinham muitas de suas tradições. Os enterros dos reis negros – descendentes de realezas africanas – eram feitos com toda pompa e solenidade, pois eles eram reverenciados, por todos os escravos oriundos daquela nação africana. Em outros casos, os escravos chegavam a juntar dinheiro para comprar a alforria de seus antigos reis. Assim, mesmo perseguidas pelas autoridades, as festas e manifestações culturais dos escravos persistiam por todo o século XIX.
Já os mestiços – estigmatizados pelos brancos por sua cor – podiam adquirir razoável riqueza controlando pequenas lojas e oficinas. Uma mestiça esposa de um artesão abastado tinha o privilégio de possuir quatro escravas, que carregavam seus pertences. Ela se dirigia a casa de parentes para uma festa, e por isso suas escravas levavam as esteiras que seriam usadas para dormir; passeios ao ar livre e danças ao som do violão constituíam as formas de convivência entre os mestiços.
Alem dessas reuniões, muitas outras festas eram motivo de diversão para os mestiços, escravos e brancos pobres da província. A folia do Divino, por exemplo, realizada na semana anterior do Pentecostes, representava a coroação de um menino como o Imperador do Espírito Santo e era acompanhada de tocadores de violão, pandeiros e tambores. Nessas festas, algumas prostitutas ricas – geralmente a um local da cidade – apareciam em cadeirinhas enfeitadas, conduzidas por escravos.
Também os assaltos – que já eram numerosos nos dias normais – aumentavam por ocasião das festas. A enorme população de homens excluídos dos privilégios sociais e políticos, restritos a uma pequena elite, encontrava nos assaltos a única forma de garantir sua sobrevivência; contudo, esses homens tinham consciência da insignificância de seus furtos se comparados ás falcatruas realizadas pelos grandes homens da corte, como indica a letra de uma música da época:


Branco diz – preto furta,
Preto furta com razão.
Sinhô branco também furta,
Quando apanha ocasião.

Nosso preto furta galinha,
Furta saco de feijão.
Sinhô branco quando furta,
Furta prata e patacão.

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A comissão faz o ladrão.


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